A quinta-feira foi extremamente proveitosa para a comitiva de prefeitos que fazem parte da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne). Um longo debate sobre saúde marcou o quinto dia da Missão Técnica ao Chile.
Na Universidade de Valparaíso, o grupo foi recebido pelo Decano (diretor) da Faculdade de Engenharia, David Jamet Aguilar, que deu as boas-vindas e falou sobre a importância deste intercâmbio de conhecimentos e culturas entre o Chile e o Brasil.
Em seguida, a diretora do Departamento de Saúde da Cidade de Huechuraba, Andrea Quiero, falou sobre o tema "A Saúde Pública em âmbito local".
De acordo com a palestrante, administrar o insuficiente sistema público de saúde no Chile é um grande desafio. O Chile tem um sistema misto de saúde, sendo que 76% da população é coberta pelo serviço público e pouco mais de 20%, pelo privado. O restante da população é atendido nos hospitais e serviços especiais das Forças Armadas, entre outros.
O sistema público conta com um seguro conhecido como "Fondo Nacional de Salud" (Fonasa) e o privado, com as "Instituciones de Salud Previsional" (Isapres). Para aderir ao Fonasa, os chilenos devem pagar 7% de seu salário mensal. No caso das Isapres, se os 7% não são suficientes para assinar um bom plano de saúde, deve-se pagar uma porcentagem adicional. E é precisamente neste aspecto que as diferenças entre o público e o privado são gritantes.
A realidade mostra uma maioria dependente dos recursos do Ministério de Saúde que, ano após ano, parecem mais escassos. O pior, entretanto, acontece na hora da alta hospitalar. Para os chilenos de menores recursos, que utilizam o seguro do Fonasa, o sistema financia apenas uma pequena parte da fatura decorrente do atendimento. Já os mais favorecidos, os que utilizam o sistema privado das Isapres, geralmente têm suas contas cobertas em 90% do total. A única diferença aparece com o transcorrer dos anos. Enquanto o Fonasa não aumenta a cotização de 7% às pessoas de maior idade, as Isapres promovem acréscimos nos contratos pelo natural aparecimento de doenças decorrentes da velhice. "E não é raro serem expulsos do sistema", enfatiza Andrea.
No Chile há aproximadamente 1, 5 médico a cada mil habitantes, considerando uma população de 17 milhões de pessoas e 28 mil médicos. Há 19 faculdades de Medicina, sendo 18 delas ligadas à Asociación Chilena de Facultades de Medicina (Asofamech), excluindo a Facultad de Medicina da Universidad del Mar. O salário do médico no serviço público, considerando sua formação, é muito baixo. Flutua entre US$ 2 mil e US$ 5 mil, dependendo da quantidade de anos de atividade. Isso faz com que os especialistas, por exemplo, procurem oportunidades de trabalho nas clínicas privadas, em que as Isapres e as instituições privadas pagam mais.
Um estudo realizado pelo Ministério de Saúde e pelo Banco Mundial destacou que no sistema público há um déficit de mais de 1.500 médicos especialistas de jornada completa de 44 horas. O mesmo documento assinala que faltam anestesistas, médicos internos, traumatologistas, psiquiatras, oftalmologistas, pediatras e neonatologistas, obstetras, neurocirurgiões e cirurgiões gerais, entre muitas outras especialidades.
"Em resumo, quem tem dinheiro, tem saúde no Chile, por meio das Isapres conveniadas com clínicas privadas. Caso contrário, resta um serviço público eficiente, mas insuficiente para 76% da população. E pior, só se tem acesso à saúde se o cidadão contribuir com 7% do salário", finaliza a palestrante.
Dando continuidade à programação, o presidente da Comissão de Saúde da Associação Chilena de Municípios e prefeito de La Granja, Felipe Delpin Aguilar fez um apanhado geral da saúde nos últimos anos, falando de sua evolução, dos problemas existentes e, inclusive, ressaltando um comparativo entre a saúde no Chile e no Brasil que, segundo ele, não parece ser muito diferente.
Para finalizar, o coordenador de Promoção da Universidade de Valparaíso, Daniel Miranda, agradeceu a presença de todos e a escolha do Chile, em especial de Valparaíso, para realizar uma troca de experiências e falar sobre as particularidades de cada região tão distinta e, ao mesmo tempo, tão semelhante.
Já à tarde, o grupo visitou a sede do Governo de Valparaíso, onde estava marcada uma reunião com o Secretário Executivo do Conselho de Desenvolvimento Regional, Enrique Austudillo.
Fotos: Mônica Rachele Lovera